Metodologia de planejamento
FERREIRA
(1984, p. 25) menciona três metodologias de planejamento, apontadas
também por GANDINI (1988, p. 131) e SANDRINI (1988, p. 9), que
anunciam linhas diferentes de ação que uma instituição pode
assumir...
a)
O primeiro modo é planejar para
a comunidade: neste modo de planejar, o poder é exercido de maneira
autocrática, dominadora e até ditatorial. A participação na
preparação e na elaboração é nula. No que se refere à execução,
é imposta e de modo idêntico quanto aos resultados. A gestão,
neste modelo, é uma administração ou direção exercida por
alguém, e não por todos. É assumida por um pequeno grupo, uma
parte, nunca pelo todo.
b) Um segundo modo de planejar é com a
comunidade: neste momento, o poder está a serviço. A participação
da comunidade, na preparação e na elaboração do plano, é
controlada. A execução do plano acontece a partir do consenso e do
resultado de uma negociação. Neste modelo de planejamento, existe a
co-gestão. Há um pouco de participação da comunidade através das
pessoas mais ou menos representativas. Este modelo de planejamento
mostra, claramente, que, quem tem o poder nas mãos, cede alguma
coisa, não o essencial, para significar que existe participação da
comunidade no planejamento. Na realidade, a participação é
insignificante e pequena. Às vezes, ilusória. O poder continua nas
mãos de poucos, que o controlam constantemente.
c)
Um terceiro modelo é o planejamento da comunidade. Aqui, o poder é
exercido como um serviço. A gestão é da comunidade, e será
chamada autogestão. A participação da comunidade na preparação,
na elaboração do planejamento, em sua execução e em seu resultado
é de co-responsabilidade e de comunhão. Este modelo é o ideal de
planejamento de participação e de gestão. Só assim, poderá
acontecer participação comunitária para a transformação social
em favor da justiça, da fraternidade e da libertação total.
O processo de planejamento participativo
É
considerado ideal o planejamento que envolve as pessoas como sujeitos
a partir de sua elaboração, e com presença constante na execução
e na avaliação, não apenas como indivíduos, mas como sujeitos de
um processo que os envolve como grupo, visando ao desenvolvimento
individual e comunitário.
VIANNA
(1986) insiste na perspectiva do homem como ser social que partilha
vivências e que busca realização pessoal na participação
comunitária. Propõe...
Uma
nova forma de ação, cuja força reside na participação de muitas
pessoas, politicamente agindo em função de necessidades, interesses
e objetivos comuns. Um planejamento flexível, adaptado a cada
situação específica que envolva decisões comunitárias e que se
constitua em processo político vinculado à decisão da maioria. Um
planejamento que tenha por objetivo final a formação do brasileiro,
individual e socialmente considerado, a partir do engajamento da
maioria para mudanças estruturais (p.
18).
A
mesma autora (1986, p. 23) entende que o planejamento participativo
se constitui...
...numa
atividade de trabalho, que se caracteriza pela integração de todos
os setores da atividade humana social, num processo global, para a
solução dos problemas comuns.
O diálogo-comunicação é elemento essencial no
processo de intercâmbio de vivências, experiências, interações,
diálogos entre os participantes.
Pretende-se um planejamento centrado na pessoa,
livre e crítica, sujeito de seu desenvolvimento, mas com decisões
comunitárias; um processo grupal e participativo que considere as
pessoas, com seus valores, seus sentimentos e suas situações de
ordem social, econômica, política e cultural.
Este
modelo de planejamento obriga a um posicionamento crítico e de
participação dos envolvidos, uma consciência crítica da
realidade, determinando uma ação coerente e eficaz, a fim de
promover as mudanças e as transformações desejadas, com vistas a
uma aproximação do ideal projetado. É assumir
a práxis, que, no entender de Paulo Freire, é a
reflexão dos homens sobre o
mundo
para transformá-lo (1975,
p. 40).
Sendo
um processo
de
intervenção
na realidade, será
eficaz na medida em que for comunitário e criativo, aproveitando o
conhecimento e o discernimento do grupo, bem como as soluções que o
mesmo apresenta.
É
o planejamento do grupo-comunidade, vivenciando o processo de
ação-reflexão-ação por meio do método ver-julgar-agir.
Planejamento participativo em uma escola
A escola é um segmento da sociedade. E com esta,
aquela está comprometida na manutenção dos esquemas relacionais do
mundo atual. Em outras palavras, a escola está compromissada com a
continuidade das relações de dominação e de exploração
vigentes, alimentando, constantemente, a opressão e a injustiça.
A
transformação dessa sociedade é o enfoque primeiro da educação
libertadora. A vivência de uma metodologia participativa, na qual as
relações solidárias de convivência pontificam, provoca, mesmo que
lentamente, a concretização de uma nova ordem social, iniciando
pela parcela menor, que é a escola. É preciso propiciar à pessoa a
possibilidade de poder vivenciar uma nova dimensão da vida social,
na qual não participe só na execução, mas também na discussão
dos rumos da instituição escolar. Em outras palavras, presença
ativa e criativa na elaboração, na execução e na avaliação,
isto é, na
decisão
e no fazer do planejamento.
O
planejamento participativo na escola não
pode
reduzir-se a integrar escola-família-comunidade, mas também deve
visar à realização das pessoas e à transformação da comunidade
na qual a escola está inserida.
A
tradição educativa se firmou numa estrutura eminentemente
verticalista. Redimensionar a administração escolar, para uma
dimensão horizontal, é uma das dificuldades e, ao mesmo tempo,
pressuposto para o planejamento participativo. O encontro de pessoas,
por meio do diálogo e do debate, em que
discutem, decidem e assumem as realidades comuns, provoca crescimento
pessoal e comunitário, tornando possível uma educação escolar
mais humana e mais participativa.
Trata-se
de uma nova maneira de decidir e de agir, a fim de tentar uma saída
para a difícil situação em que se encontra a educação formal. É
a comunidade escolar que se une em torno de uma idéia-força,
nuclear,
ampla,
complexa e
abrangente
(MARQUES, 1987, p. 188), por meio de uma ação dialógica,
integradora e participativa.
Na
vivência de um planejamento participativo em uma escola, VIANNA
(1986, p. 31) aponta para dois riscos, aos quais este tipo de
planejamento está sujeito, e para os quais deve-se estar atento...
- o primeiro refere-se à assessoria especializada, que poderá, antes, durante e após o processo, agir em função da vivência pessoal, manipulando os interesses da maioria comunitária, determinando o que fazer, como, quando e por que decidir e agir;
- o segundo acontece quando a coordenação utiliza a informação e a comunicação para manipular, politicamente, a comunidade educativa, convencendo-a a aceitar seus projetos pseudo-sociais, e consultando-a apenas em aspectos secundários, criando a ilusão de participação por meio da não reflexão dos problemas comunitários. Mantém-se, assim, uma adesão acrítica à programação.
Apesar
dos riscos, tem-se a convicção de que a escola é um lugar possível
de educação consciente, crítica, criativa e participativa, desde
que seus integrantes acreditem em um processo político de educação,
e que possam produzir mudanças nas relações interpessoais e
sociais.
VIANNA
(1986, p. 38) confirma sua viabilidade, desde que os educadores
estejam imbuídos de algumas qualidades básicas, afirmando...
...ser o planejamento participativo
um desafio para os verdadeiros educadores, exigindo daqueles que
pretendem realizá-lo muita disponibilidade, coragem, persistência,
tenacidade, garra, espírito de luta. Não é trabalho impossível,
mas plenamente viável, apesar de todos os empecilhos colocados pelo
sistema e por educadores descompromissados com a tarefa que abraçaram
como profissão: educar as novas gerações de brasileiros
conscientes e livres.
O
planejamento participativo, assumido como processo de crescimento
pessoal e de transformação social, talvez seja o único caminho
viável para se conseguir a renovação profunda das estruturas e das
relações na educação formal.
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