terça-feira, 8 de abril de 2014

Planejamento participativo

Metodologia de planejamento

FERREIRA (1984, p. 25) menciona três metodologias de planejamento, apontadas também por GANDINI (1988, p. 131) e SANDRINI (1988, p. 9), que anunciam linhas diferentes de ação que uma instituição pode assumir...

a) O primeiro modo é planejar para a comunidade: neste modo de planejar, o poder é exercido de maneira autocrática, dominadora e até ditatorial. A participação na preparação e na elaboração é nula. No que se refere à execução, é imposta e de modo idêntico quanto aos resultados. A gestão, neste modelo, é uma administração ou direção exercida por alguém, e não por todos. É assumida por um pequeno grupo, uma parte, nunca pelo todo.

b) Um segundo modo de planejar é com a comunidade: neste momento, o poder está a serviço. A participação da comunidade, na preparação e na elaboração do plano, é controlada. A execução do plano acontece a partir do consenso e do resultado de uma negociação. Neste modelo de planejamento, existe a co-gestão. Há um pouco de participação da comunidade através das pessoas mais ou menos representativas. Este modelo de planejamento mostra, claramente, que, quem tem o poder nas mãos, cede alguma coisa, não o essencial, para significar que existe participação da comunidade no planejamento. Na realidade, a participação é insignificante e pequena. Às vezes, ilusória. O poder continua nas mãos de poucos, que o controlam constantemente.

c) Um terceiro modelo é o planejamento da comunidade. Aqui, o poder é exercido como um serviço. A gestão é da comunidade, e será chamada autogestão. A participação da comunidade na preparação, na elaboração do planejamento, em sua execução e em seu resultado é de co-responsabilidade e de comunhão. Este modelo é o ideal de planejamento de participação e de gestão. Só assim, poderá acontecer participação comunitária para a transformação social em favor da justiça, da fraternidade e da libertação total.


O processo de planejamento participativo


É considerado ideal o planejamento que envolve as pessoas como sujeitos a partir de sua elaboração, e com presença constante na execução e na avaliação, não apenas como indivíduos, mas como sujeitos de um processo que os envolve como grupo, visando ao desenvolvimento individual e comunitário.

VIANNA (1986) insiste na perspectiva do homem como ser social que partilha vivências e que busca realização pessoal na participação comunitária. Propõe...

Uma nova forma de ação, cuja força reside na participação de muitas pessoas, politicamente agindo em função de necessidades, interesses e objetivos comuns. Um planejamento flexível, adaptado a cada situação específica que envolva decisões comunitárias e que se constitua em processo político vinculado à decisão da maioria. Um planejamento que tenha por objetivo final a formação do brasileiro, individual e socialmente considerado, a partir do engajamento da maioria para mudanças estruturais (p. 18).

A mesma autora (1986, p. 23) entende que o planejamento participativo se constitui...

...numa atividade de trabalho, que se caracteriza pela integração de todos os setores da atividade humana social, num processo global, para a solução dos problemas comuns.

O diálogo-comunicação é elemento essencial no processo de intercâmbio de vivências, experiências, interações, diálogos entre os participantes.

Pretende-se um planejamento centrado na pessoa, livre e crítica, sujeito de seu desenvolvimento, mas com decisões comunitárias; um processo grupal e participativo que considere as pessoas, com seus valores, seus sentimentos e suas situações de ordem social, econômica, política e cultural.

Este modelo de planejamento obriga a um posicionamento crítico e de participação dos envolvidos, uma consciência crítica da realidade, determinando uma ação coerente e eficaz, a fim de promover as mudanças e as transformações desejadas, com vistas a uma aproximação do ideal projetado. É assumir a práxis, que, no entender de Paulo Freire, é a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo (1975, p. 40).

Sendo um processo de intervenção na realidade, será eficaz na medida em que for comunitário e criativo, aproveitando o conhecimento e o discernimento do grupo, bem como as soluções que o mesmo apresenta.


É o planejamento do grupo-comunidade, vivenciando o processo de ação-reflexão-ação por meio do método ver-julgar-agir.


Planejamento participativo em uma escola

A escola é um segmento da sociedade. E com esta, aquela está comprometida na manutenção dos esquemas relacionais do mundo atual. Em outras palavras, a escola está compromissada com a continuidade das relações de dominação e de exploração vigentes, alimentando, constantemente, a opressão e a injustiça.

A transformação dessa sociedade é o enfoque primeiro da educação libertadora. A vivência de uma metodologia participativa, na qual as relações solidárias de convivência pontificam, provoca, mesmo que lentamente, a concretização de uma nova ordem social, iniciando pela parcela menor, que é a escola. É preciso propiciar à pessoa a possibilidade de poder vivenciar uma nova dimensão da vida social, na qual não participe só na execução, mas também na discussão dos rumos da instituição escolar. Em outras palavras, presença ativa e criativa na elaboração, na execução e na avaliação, isto é, na decisão e no fazer do planejamento.

O planejamento participativo na escola não pode reduzir-se a integrar escola-família-comunidade, mas também deve visar à realização das pessoas e à transformação da comunidade na qual a escola está inserida.

A tradição educativa se firmou numa estrutura eminentemente verticalista. Redimensionar a administração escolar, para uma dimensão horizontal, é uma das dificuldades e, ao mesmo tempo, pressuposto para o planejamento participativo. O encontro de pessoas, por meio do diálogo e do debate, em que discutem, decidem e assumem as realidades comuns, provoca crescimento pessoal e comunitário, tornando possível uma educação escolar mais humana e mais participativa.

Trata-se de uma nova maneira de decidir e de agir, a fim de tentar uma saída para a difícil situação em que se encontra a educação formal. É a comunidade escolar que se une em torno de uma idéia-força, nuclear, ampla, complexa e abrangente (MARQUES, 1987, p. 188), por meio de uma ação dialógica, integradora e participativa.

Na vivência de um planejamento participativo em uma escola, VIANNA (1986, p. 31) aponta para dois riscos, aos quais este tipo de planejamento está sujeito, e para os quais deve-se estar atento...
  • o primeiro refere-se à assessoria especializada, que poderá, antes, durante e após o processo, agir em função da vivência pessoal, manipulando os interesses da maioria comunitária, determinando o que fazer, como, quando e por que decidir e agir;
  • o segundo acontece quando a coordenação utiliza a informação e a comunicação para manipular, politicamente, a comunidade educativa, convencendo-a a aceitar seus projetos pseudo-sociais, e consultando-a apenas em aspectos secundários, criando a ilusão de participação por meio da não reflexão dos problemas comunitários. Mantém-se, assim, uma adesão acrítica à programação.

Apesar dos riscos, tem-se a convicção de que a escola é um lugar possível de educação consciente, crítica, criativa e participativa, desde que seus integrantes acreditem em um processo político de educação, e que possam produzir mudanças nas relações interpessoais e sociais.

VIANNA (1986, p. 38) confirma sua viabilidade, desde que os educadores estejam imbuídos de algumas qualidades básicas, afirmando...

...ser o planejamento participativo um desafio para os verdadeiros educadores, exigindo daqueles que pretendem realizá-lo muita disponibilidade, coragem, persistência, tenacidade, garra, espírito de luta. Não é trabalho impossível, mas plenamente viável, apesar de todos os empecilhos colocados pelo sistema e por educadores descompromissados com a tarefa que abraçaram como profissão: educar as novas gerações de brasileiros conscientes e livres.

O planejamento participativo, assumido como processo de crescimento pessoal e de transformação social, talvez seja o único caminho viável para se conseguir a renovação profunda das estruturas e das relações na educação formal.

Fonte: DALMÁS, Angelo. Planejamento participativo. InPlanejamento participativo na escola: elaboração, acompanhamento e avaliação. Petrópolis: Vozes, 1994. p. 25-30. 

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