Os valores são os parâmetros
éticos e morais que as pessoas possuem em razão da sua família, sua crença, sua
cultura, entre outros. Assim como as pessoas, as empresas, também possuem valores,
crença e cultura. Estes devem ser observados para compreender a evolução e
desenvolvimento da empresa, bem como, a forma como a empresa se posiciona, e é
vista no mercado.
As empresas de energia elétrica
no Brasil tiveram origem no setor público, uma vez que a prestação de serviço
de energia elétrica inicialmente era realizada pelo estado. Na verdade, as
atividades de geração e transmissão eram efetuadas pelo governo federal ao
passo que as atividades de distribuição eram realizadas pelo governo estadual.
Em 1995, o serviço de energia
elétrica começou a ser privatizado e com isso as empresas passaram a agregar
novos valores.
Bem, o período em que a energia
era prestada pelo serviço público deixou alguns valores para os consumidores em
geral, quais sejam:
·
No Brasil, a energia deveria ser fornecida
gratuitamente pelo governo;
·
O custo da energia é elevado, e a única
justificativa seria o alto lucro das empresas elétricas;
·
A geração de energia é uma atividade
extremamente danosa ao meio ambiente;
·
Apagões e interrupções no fornecimento de
energia se devem a falta de planejamento do governo;
·
Os famosos “gatos” ou perdas não técnicas não
causam nenhum prejuízo à prestação do serviço e apenas reduzem o lucro das
Distribuidoras.
É sempre bom lembrar que a
prestação de energia não pode e nem deveria ser gratuita. Para que um
consumidor receba energia é necessário que a energia gerada passe por uma linha
de transmissão, centrais de distribuição e transformadores. Todas estas
operações exigem custos elevados e que são pagos por cada um dos agentes.
Além disso, o setor demanda
investimentos constantes para ser efetuado atendendo os princípios da
modicidade tarifária e continuidade da prestação. Tanto é assim, que o setor de
energia brasileiro deve receber R$ 951 bilhões em investimento em projetos nas
áreas de energia elétrica, petróleo, gás natural e biocombustíveis até 2016 .
Segundo pesquisa realiza pelo Instituto Acende Brasil em 2008, o inadimplemento
dos consumidores e as perdas não técnicas geram prejuízos da ordem de R$ 6
bilhões.
Algumas empresas têm investido enormes
quantias visando diminuir parte deste prejuízo. Ocorre que ao pensarmos neste
problema, estamos enxergando apenas a “fotografia” e não o “filme.” A grande
questão a ser respondida é como os consumidores enxergam estas empresas.
Neste sentido vale destacar os
esforços envidados pelas distribuidoras no sentido de se aproximar dos
consumidores. As concessionarias são obrigadas a investir parte de sua Receita
Operacional Líquida em Programas de Eficiência Energética, a maior delas investe
este valor, através da substituição de eletrodomésticos mais eficientes, que
consomem menos energia e diminuem a tarifa de energia.
Recentemente, vi uma iniciativa
da Electrolux para incentivar a compra de novos eletrodomésticos na Europa. A
Electrolux instala um cubo branco com ares futuristas que faz às vezes de
restaurante e que reúne o melhor do design escandinavo, além de métodos e
materiais sustentáveis de última geração em um ponto estratégico de cidades
turísticas. Dentro dele, chefs estrelados se alternam em temporadas e
orquestram a cozinha que mostra os principais avanços e utilidades de
eletrodomésticos.
Ao analisar estes dois exemplos
de aproximação ao consumidor, por meio de relacionamento institucional, me
deparei com as seguintes dúvidas: o que os consumidores esperam de uma empresa?
Quais seriam os pilares deste relacionamento?
Para responder a estas questões
fiz uma analogia com as relações afetivas. Em qualquer relacionamento busca-se
comprometimento com os valores, princípios e estilo de vida. Neste sentido vale
destacar um relacionamento institucional que deu certo exatamente por a empresa
se comprometer com seus consumidores.
Em outubro de 2012, a Brasil
Solair assinou um acordo de cooperação financeira com o Fundo Socioambiental
CAIXA e juntos iniciaram o Projeto de Geração de Renda e Energia em Juazeiro,
na Bahia.
O Projeto, de 2,1 MW, beneficiará
mil famílias de dois residenciais do Programa Minha Casa Minha Vida e prevê a
instalação de sistemas de microgeração de energia solar e eólica, nos telhados
e nas áreas comuns dos residenciais. A energia gerada pelos moradores será
comprada pela Caixa Econômica Federal para utilização em algumas de suas
unidades operacionais e agências. Os objetivos são: promover a organização
social das famílias beneficiadas, incentivando o cooperativismo e a troca de
experiências e maximizar a renda delas através da geração de energia.
Desde que foi iniciado, o Projeto
conta com uma equipe da Brasil Solair que inclui psicólogos, sociólogos,
pedagogos, técnicos e engenheiros trabalhando diariamente nas residências.
Primeiramente, foram realizados plantões sociais e reuniões com os moradores
com o objetivo de orientá-los em relação ao tema “energia renovável” e também
sobre o funcionamento do Projeto. Depois, alguns deles foram recrutados,
capacitados e treinados para trabalhar na instalação e futura manutenção dos
painéis. Atualmente, o Projeto está em fase de finalização.
Embora o projeto não tenha sido
finalizado, não tenho dúvidas de que dará certo, isso porque a Brasil Solair se
comprometeu com as causas dos consumidores de energia, quais sejam: a falta de
emprego, de renda, de oportunidades. Ao mostrar que a empresa se preocupava com
os consumidores, estes passaram a se preocupar em cuidar das placas que
instalavam, em utilizar a energia de forma, mais racional.
Neste sentido fica o alerta: as
empresas que desejam ter um relacionamento institucional com seus clientes, que
futuramente seja revertido em benefícios financeiros devem se preocupar em
conhecer os seus clientes, e principalmente em demonstrar que estão ali para
agregar a sociedade, para promover o exercício dos direitos e não para
detraí-los.
*Escrito por Isabela Vargas, advogada, especialista em Regulação Econômica.
*Escrito por Isabela Vargas, advogada, especialista em Regulação Econômica.