O
objetivo de toda empresa é ser lucrativa, para tanto, os empresários contratam
mão-de-obra qualificada, realizam novos investimentos, constroem um
planejamento estratégico e trabalham arduamente para conseguir o resultado
financeiro que esperam. Há, contudo gastos e despesas que podem ser diminuídas ou
revertidas para possibilitar maiores ganhos.
No setor
elétrico o furto e a fraude de energia são considerados perdas comerciais ou
perdas não técnicas, ou seja, tais falhas não decorrem de defeitos técnicos na
condução da carga, mas sim de atitudes ocasionadas pelo próprio consumidor. As
causas mais frequentes de perdas comerciais são: a inexistência ou defeito em
medidores de consumo de energia elétrica, ou o furto de energia, realizado por
intermédio de instalações clandestinas.
As
distribuidoras de energia sofrem diversos prejuízos em razão das perdas não
técnicas. Neste sentido, cabe destacar: a diminuição no orçamento de
investimentos; a dificuldade em se atingir os indicadores de qualidade exigidos,
pelo regulador, em razão da ligação direta de consumidores, que não estavam
previstos no atendimento das distribuidoras, e que ocasionam interrupções no
fornecimento do serviço; o pagamento de indenizações indevidas, por decisões
judiciais sem uma análise mais cuidadosa do fato; além do próprio incremento de
custos relacionados a despesas jurídico-processuais; entre outros.
No
intuito de mitigar tais impactos, as distribuidoras têm adotado várias medidas,
tais como: i) Instituir o procedimento da dupla notificação – a distribuidora
envia duas notificações ao consumidor, antes de inscrevê-lo como inadimplente;
ii) Corte e geração autônoma – algumas distribuidoras, interrompem o
fornecimento de energia pela distribuidora e conectam as instalações um gerador
para garantir o fornecimento nos próximos dias, ou até que o consumidor pague o
que está devendo; iii) Negociação de dívidas – as distribuidoras podem facultar
ao consumidor o parcelamento de suas dívidas, ou a negociação dos valores
devidos; iv) Ação judicial – as distribuidoras podem ingressar com ação
judicial, visando o pagamento devido pelo consumidor, v) Campanhas
publicitárias – as empresas podem utilizar a mídia para conscientização do problema;
vi) Promoção de cursos – implantação de equipes da distribuidora na região, com
maiores perdas com objetivo de promover a utilização racional da energia, etc.
A
tecnologia também tem se mostrado uma aliada no combate a perdas comerciais,
através da substituição de medidores mecânicos por eletrônicos e da utilização
de redes blindadas, que criam dificuldades para a concretização das perdas
comerciais, já que passam a exigir mão-de-obra qualifica para criar o desvio de
carga. Todavia, a tecnologia por si só não resolve o problema, que também é
decorrente de influências culturais, regionais, econômicas e sociais.
Apesar de o problema das perdas comerciais ainda não
ter recebido a atenção devida. Posto que seja preciso legitimar as
investigações e fiscalizações realizadas pelas distribuidoras, bem como
asseverar as penalidades civis e penais existentes para este tipo de conduta,
já é possível vislumbrar alguns resultados positivos, com a adoção das medidas
acima. Em 2011, a Ampla distribuidora de energia, do Rio de Janeiro, fechou o
ano com o melhor índice de perdas de sua história, 19,66%, uma queda de 0,85
pontos em relação a dezembro de 2010, o que representou uma economia de milhões
de reais.
Apesar de a empresa ter despendido receita com a adoção
de tecnologias e com equipes que mobilizavam a comunidade para o uso da energia
de forma mais racional, o resultado foi compensador, possibilitando a economia
financeira e até mesmo uma mudança da imagem institucional da empresa. Cabe ressaltar
que o valor da economia ainda poderá ser revertido para outras finalidades como,
por exemplo, a expansão da rede básica.
Outro exemplo de economia inteligente diz respeito à adoção
de softwares e aplicativos com objetivo de promover o controle e melhoria da
saúde. O I-tunes disponibiliza mais de 12.000 aplicativos voltados a este
objetivo. Segundo os dados da associação global de operadoras móveis (GSMA), a
adoção da conectividade móvel para a saúde (m-health) pode proporcionar uma
economia ao setor na Europa em quase 100 bilhões de euros em 2017. Segundo o
levantamento, o impacto socioeconômico da tecnologia no continente ainda
poderia adicionar 93 bilhões de euros ao PIB na região.
Ou seja, hospitais e centros de saúde que utilizem, por
exemplo, softwares ou aplicativos para o agendamento de consultas online, podem
economizar na contratação de recursos humanos e ainda garantir aos seus
pacientes, o conforto e praticidade ao marcar suas consultas.
Como se vê iniciativas simples e baratas, em termos de
investimentos, podem gerar resultados bastante expressivos. Desta forma, os
gestores de empresas precisam olhar com mais acuidade a fonte das despesas, e o
anseio dos consumidores. O referido binômio emitirá sinais referentes aos
melhores investimentos a ser feitos.
No
caso das empresas de energia ter-se aproximado dos consumidores através de
campanhas de publicitária e da promoção da informação foi decisivo para inibir
a reiterada prática de furto de energia, que acarretava o não faturamento da
energia utilizada, ou seja, prejuízo. No caso das empresas de saúde, a ideia de
facilitar a vida dos seus pacientes gerou economia, aumento de ganhos e
reconhecimento social. Assim, economizar nem sempre será somente poupar o capital,
em alguns casos pode representar novos ganhos.
* Escrito por Isabela Vargas, advogada, especialista em regulação econômica
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