domingo, 28 de julho de 2013

A ascensão e queda de Eike Batista

O Ex-Midas

Na história do capitalismo brasileiro, nenhum empresário conheceu a glória e a derrocada tão rapidamente, quanto Eike Batista. Em pouco mais de um ano, ele deixou de ser o oitavo homem mais rico do mundo, festejado pela elite mundial dos negócios, para mergulhar em uma crise que o levou, inclusive, para fora do clube dos bilionários. 
foto de família de eike batista
Infância
Eike é filho de Eliezer Batista, ex-ministro de Minas e Energia do Brasil e conhecido por presidir a Vale, quando ainda era estatal e se chamava Vale do Rio Doce. Da infância, o empresário lembra com carinho das lições da mãe, Jutta. Para curar sua asma, por exemplo, a mãe o obrigou a aprender a nadar, algo que foi interpretado por ele como uma aula para fortalecer sua força de vontade.

O patriarca

Eliezer Batista com os filhos, Werner, Lars, Eike e Dietrich, na sessão especial do documentário "Eliezer Batista - O Engenheiro do Brasil", em novembro de 2009. Os críticos de Eike afirmam que sua rápida ascensão deveu-se a supostas informações privilegiadas passadas por seu pai, ex-ministro de Minas e Energia e ex-presidente da Vale. Eike sempre negou que fosse favorecido por esse relacionamento.
Eliezer Batista com os filhos, Werner, Lars, Eike e Dietrich, na sessão especial do documentário "Eliezer Batista - O Engenheiro do Brasil", em novembro de 2009.

No começo da carreira

Eike Batista faturou seus primeiros milhões extraindo ouro no Norte do país. Segundo ele, esta foi a sua maior escola, pois entendeu que um negócio só para de pé, se for "à prova de idiotas", como repetiu várias vezes. Nesta foto, de fevereiro de 1993, Eike era o presidente da Companhia Nacional de Mineração.
Eike, em fevereiro de 1993, quando era presidente da Companhia Nacional de Mineração.

Laços antigos

Muito brasileiros ouviram falar de Eike, pela primeira vez, como o então marido da atriz  Luma de Oliveira. Luma chegou a despertar a fúria das feministas, no Carnaval de 1998, ao desfilar pela escola de samba Tradição com uma coleira com o nome de Eike. Três anos depois, Eike foi retratado ao lado da atriz, na festa de lançamento da edição da revista Playboy em que posou nua, na Boate Scotch, em maio de 2001. Luma é a mãe dos filhos mais velhos do empresário, Thor e Olin.

Gosto pela aventura

Eike sempre cultivou um gosto pela aventura e pela velocidade. Em janeiro de 2006, o empresário estabeleceu um novo recorde para a travessia Santos-Rio. Com uma lancha de dois motores de 1.800 cavalos, Eike realizou o trajeto em 3 horas e 1 minutos – 30 minutos mais rápido que o recorde anterior.

O início do império

Em 24 de julho de 2006, Eike lançava na Bolsa de Valores de São Paulo a sua primeira empresa de capital aberto: a mineradora MMX. O IPO levantou 1,1 bilhão de reais, com os estrangeiros respondendo por 76% do total de investidores. Era o início de uma trajetória meteórica. Nos anos seguintes, Eike abriria o capital de mais quatro empresas.
Obras do Superporto Sudeste, da MMX, em dezembro de 2012

Energia para os negócios

Em 14 de dezembro de 2007, Eike realizou seu segundo IPO, o da MPX, sua empresa de energia. A operação captou 2,03 bilhões de reais, com 71% dos investidores vindos do exterior. Sua proposta era gerar energia térmelétrica, a partir de reservas de gás. Hoje, é considerada a empresa mais saudável do Grupo EBX. Neste ano, Eike perdeu o controle da MPX para a alemã E.ON e deixou as presidências do conselho de administração e da diretoria.

A LLX ganha vida própria

Ainda em 2008, a LLX é desmembrada da MMX e ganha autonomia. A operação foi decorrência da venda de uma parte da MMX para a mineradora Anglo Americana, em janeiro daquele ano, por 5,5 bilhões de dólares. Na ocasião, 85% do capital da LLX pertencia à MMX. Os demais 15% estavam nas mãos do fundo de pensão canadense Ontario Teachers Pension Plan. A OTPP resolveu vender sua fatia na bolsa, o que levou à abertura de capital da LLX sem que um IPO fosse feito.

US$ 100 bilhões em dez anos

Em fevereiro de 2010, pouco antes do IPO da OSX, Eike Batista participou do tradicional programa de entrevistas do jornalista americano Charlie Rose. Questionado por Rose sobre quanto de riqueza esperava ter ao final dos próximos dez anos, Eike não titubeou e cravou 100 bilhões de dólares. Diante do espanto do apresentador, o empresário apenas disse: "Sim... fazer o que? Estou com sorte". Se alcançada, a cifra o tornaria o homem mais rico do mundo. Na ocasião, Eike era o 61º na lista da Forbes, com 7,5 bilhões de dólares.

Com o poder

A fama e os bilhões que Eike mobilizava o aproximou do poder. Aqui, o empresário participa da recepção do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Hu Jintao, então presidente da China, no Itamaraty, em abril de 2010.

Primeiro barril

Na última semana de janeiro de 2012, após sucessivos atrasos no cronograma, a OGX finalmente extraiu seu primeiro barril de petróleo. Apesar da pressão, naquele momento, analistas e investidores ainda viam com simpatia as empresas X. A avaliação geral era de que, apesar dos problemas, nenhuma petroleira fora criada tão rapidamente quanto a de Eike.
Eike Batista entre Dilma Rousseff e Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro, participando da extração do primeiro óleo da sua empresa OGX

No auge

Em março de 2012, Eike Batista atingia o auge de sua trajetória. A agência de notícias Bloomberg, que acompanha diariamente a variação da fortuna dos mais abonados, o colocava como o oitavo homem mais rico do mundo, com um patrimônio estimado em 34,5 bilhões de dólares.

Queda livre

Em 29 de junho, apenas três dias após a OGX rebaixar a previsão de produção de Tubarão Azul, a crise de confiança dos investidores atingira todas as empresas X listadas na bolsa. A contaminação fez com que Eike despencasse de 7º homem mais rico do mundo (pelo ranking da Forbes) para 46º, segundo a revista americana. Sua fortuna era avaliada, então, em 13 bilhões de dólares.

O pior do mundo

Em julho de 2012, uma pesquisa publicada pela revista Bloomberg Markets citou Eike em uma situação nada honrosa – a de ter liderado a pior abertura de capital do mundo, desde 2008, quando a falência do banco americano Lehman Brothers detonou a crise financeira mundial. Coube à OSX, o estaleiro de Eike, colocá-lo nesta incômoda posição, ao cair 43% na bolsa brasileira, nos 90 dias seguintes ao IPO.

Bancando o jogo


Em outubro de 2012, para reforçar sua confiança nos negócios que criou e estancar a queda na bolsa, Eike anunciou que estava disposto a injetar até 2 bilhões de dólares em duas de suas empresas mais afetadas, a petroleira OGX e o estaleiro OSX. No caso da OGX, a opção de compra, estimada em 1 bilhão de dólares, vence em 30 de abril de 2014.

Perda da coroa

A forte queda das ações de empresas do Grupo EBX corroeu a fortuna de Eike, a ponto de colocá-lo em uma situação impensável no início de 2012: a de perder a posição de homem mais rico do Brasil. No final de novembro, a Bloomberg estimou seu patrimônio em 18,6 bilhões de dólares, atrás dos 18,9 bilhões de Jorge Paulo Lemann, um dos donos da AB InBev e do Burger King.
O empresário Eike Batista, dono do Grupo EBX

Bilionário anônimo

Em fevereiro de 2013, a Bloomberg dava uma medida de como a confiança dos investidores em Eike havia evaporado. Segundo a agência, o empresário não figurava mais entre os 100 homens mais ricos do mundo. Seu patrimônio, de acordo com a Bloomberg, estava abaixo de 10 bilhões de dólares. Semanas depois, a Forbes, que mantém sua própria lista de bilionários, ainda o colocava em 100º lugar, mas avaliava que ele havia perdido 2 milhões de dólares por hora, no último ano.

O último aliado

Em março deste ano, Eike contratou o BTG Pactual, do banqueiro André Esteves, como assessor. O objetivo era elaborar um plano de salvação do grupo. O BTG é, também, um dos maiores credores da EBX. Rapidamente, os planos passaram de uma reestruturação para a venda de ativos, a fim de levantar dinheiro para quitar dívidas e tocar alguns projetos.

Atraso indesejado

Em abril, a portadora de uma má notícia foi a MMX. A empresa informou que a expansão do projeto de Serra Azul, o seu principal empreendimento, será atrasado em um ano e meio. Os motivos são a desaceleração dos investimentos da mineradora e as dificuldades para obter licenças e linhas de crédito. A expansão, que elevaria a capacidade produtivo para 29 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, estava prevista para ser concluída no segundo semestre de 2014.

À pé

Em meio à crise, Eike pôs à venda um de seus jatos, o Legacy 600, da Embraer, usado para voos pelo Brasil. Com preço de tabela de 26 milhões de dólares, estima-se que o aparelho de Eike, por ser usado, valha agora 14 milhões. Para os voos internacionais, Eike ainda possui um jato Gulfstream G550, cujo preço de tabela é de 60 milhões de dólares.
Legacy 600

Fundo do poço

As medidas para estancar a crise de confiança das empresas de Eike não surtiram efeito. Na tarde de 13 de junho, o valor das ações da OGX ficou abaixo de 1 real pela primeira vez, desde a sua abertura de capital. O mau humor dos investidores foi causado pela divulgação, naquela época, de que Eike havia vendido 70 milhões de ações da OGX no final de maio por 121 milhões de reais. A operação foi interpretada pelos investidores como um sinal de que nem o dono da OGX já confia nela.

Para o "lixo"

Em 16 de junho, a agência de classificação de risco Fitch cristalizou a desconfiança do mercado em uma medida radical: rebaixou a nota de risco da dívida da OGX para CCC. Traduzindo: é a classificação considerada "lixo" pela agência, dada para empresas bem próximas do calote. A Fitch argumentou que tem dúvidas quanto à capacidade de a OGX honrar seus compromissos nos próximos 18 meses. Como era de se esperar, o caso afundou ainda mais as ações da empresa na bolsa, que consolidaram o patamar abaixo de 1 real.

LLX à venda

Em junho, a LLX comunicou oficialmente que contratou assessores financeiros para avaliar a venda de ativos e possíveis operações societárias - jargões que significam, na prática, que a empresa pode vender bens ou que Eike pode vender sua parte nela. O principal ativo da LLX é o Porto do Sudeste, ainda em construção, no qual o empresário idealizou um polo petroleiro.
LLX e o Superporto do Açu

Na mão

No começo de julho, Eike Batista sofreu um duro golpe de seu último aliado. O BTG Pactual, do banqueiro André Esteves, cancelou uma linha de crédito de 1 bilhão de dólares para o grupo EBX. O dinheiro fazia parte do acordo fechado em março, pelo qual o BTG prestaria assessoria financeira a Eike e o ajudaria a sair do atoleiro. Fontes do banco informaram à imprensa que o cancelamento ocorreu após o acordo ser revisado, mas não forneceram detalhes. Nem o BTG, nem a EBX, se pronunciaram a respeito.

Na mira dos minoritários

Com a crise destruindo o valor das empresas de Eike, os minoritários também começaram a se articular. Grupos de investidores começaram a ser formados, como a União dos Acionistas Minoritários do Grupo EBX (Unax). Em julho, a Unax informou que estudava pedir o bloqueio dos bens do bilionário, a fim de compensar parte das perdas de quem apostou no grupo.

Sob investigação

A discrepância entre as informações divulgadas ao mercado pelas empresas de Eike, e os reais resultados que apresentaram, levou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a investigar seus procedimentos. Segundo a agência de notícias Reuters, a autarquia abriu mais de 15 apurações de casos envolvendo o Grupo EBX nos últimos meses.

Perdendo os X-Men

O conselho de administração das empresas de Eike costumavam ostentar nomes de peso do cenário econômico e de negócios do Brasil. A crise, porém, levou muitos a se afastarem do empresário. Entre eles, o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, a ex-presidente do STF, Ellen Gracie, e o ex-ministro de Minas e Energia, Rodolpho Tourinho.

Mea culpa

Em meados deste mês, Eike se manifestou pela primeira vez sobre a crise que arrasou sua credibilidade e sua fortuna. Em um artigo publicado nos jornais Valor Econômico e O Globo, o empresário admitiu que falhou e decepcionou muita gente. Ele afirmou, porém, que sempre agiu de boa-fé e assinalou que seu maior erro foi confiar demais em seus colaboradores. No final, disse que ninguém perdeu mais do que ele com tudo isso.
O empresário Eike Batista

Agora um ex-bilionário

O último e muito simbólico episódio envolvendo Eike ocorreu nesta semana. A agência de notícias Bloomberg, que acompanha diariamente a evolução do patrimônio dos homens mais ricos do mundo, divulgou uma reportagem informando que Eike não é mais um bilionário. Após o acordo com o Mubadala, sua fortuna teria caído para 200 milhões de dólares. Um patamar bem amargo para o homem que sonhou publicamente em ser o mais rico do planeta.
O empresário Eike Batista

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