segunda-feira, 24 de junho de 2013

COMO CONSTRUIR UM RELACIONAMENTO INSTITUCIONAL COM CONSUMIDORES


Os valores são os parâmetros éticos e morais que as pessoas possuem em razão da sua família, sua crença, sua cultura, entre outros. Assim como as pessoas, as empresas, também possuem valores, crença e cultura. Estes devem ser observados para compreender a evolução e desenvolvimento da empresa, bem como, a forma como a empresa se posiciona, e é vista no mercado.
As empresas de energia elétrica no Brasil tiveram origem no setor público, uma vez que a prestação de serviço de energia elétrica inicialmente era realizada pelo estado. Na verdade, as atividades de geração e transmissão eram efetuadas pelo governo federal ao passo que as atividades de distribuição eram realizadas pelo governo estadual.
Em 1995, o serviço de energia elétrica começou a ser privatizado e com isso as empresas passaram a agregar novos valores.
Bem, o período em que a energia era prestada pelo serviço público deixou alguns valores para os consumidores em geral, quais sejam:
·         No Brasil, a energia deveria ser fornecida gratuitamente pelo governo;
·         O custo da energia é elevado, e a única justificativa seria o alto lucro das empresas elétricas;
·         A geração de energia é uma atividade extremamente danosa ao meio ambiente;
·         Apagões e interrupções no fornecimento de energia se devem a falta de planejamento do governo;
·         Os famosos “gatos” ou perdas não técnicas não causam nenhum prejuízo à prestação do serviço e apenas reduzem o lucro das Distribuidoras.
É sempre bom lembrar que a prestação de energia não pode e nem deveria ser gratuita. Para que um consumidor receba energia é necessário que a energia gerada passe por uma linha de transmissão, centrais de distribuição e transformadores. Todas estas operações exigem custos elevados e que são pagos por cada um dos agentes.
Além disso, o setor demanda investimentos constantes para ser efetuado atendendo os princípios da modicidade tarifária e continuidade da prestação. Tanto é assim, que o setor de energia brasileiro deve receber R$ 951 bilhões em investimento em projetos nas áreas de energia elétrica, petróleo, gás natural e biocombustíveis até 2016 . Segundo pesquisa realiza pelo Instituto Acende Brasil em 2008, o inadimplemento dos consumidores e as perdas não técnicas geram prejuízos da ordem de R$ 6 bilhões.
Algumas empresas têm investido enormes quantias visando diminuir parte deste prejuízo. Ocorre que ao pensarmos neste problema, estamos enxergando apenas a “fotografia” e não o “filme.” A grande questão a ser respondida é como os consumidores enxergam estas empresas.
Neste sentido vale destacar os esforços envidados pelas distribuidoras no sentido de se aproximar dos consumidores. As concessionarias são obrigadas a investir parte de sua Receita Operacional Líquida em Programas de Eficiência Energética, a maior delas investe este valor, através da substituição de eletrodomésticos mais eficientes, que consomem menos energia e diminuem a tarifa de energia.
Recentemente, vi uma iniciativa da Electrolux para incentivar a compra de novos eletrodomésticos na Europa. A Electrolux instala um cubo branco com ares futuristas que faz às vezes de restaurante e que reúne o melhor do design escandinavo, além de métodos e materiais sustentáveis de última geração em um ponto estratégico de cidades turísticas. Dentro dele, chefs estrelados se alternam em temporadas e orquestram a cozinha que mostra os principais avanços e utilidades de eletrodomésticos.

Ao analisar estes dois exemplos de aproximação ao consumidor, por meio de relacionamento institucional, me deparei com as seguintes dúvidas: o que os consumidores esperam de uma empresa? Quais seriam os pilares deste relacionamento?
Para responder a estas questões fiz uma analogia com as relações afetivas. Em qualquer relacionamento busca-se comprometimento com os valores, princípios e estilo de vida. Neste sentido vale destacar um relacionamento institucional que deu certo exatamente por a empresa se comprometer com seus consumidores.
Em outubro de 2012, a Brasil Solair assinou um acordo de cooperação financeira com o Fundo Socioambiental CAIXA e juntos iniciaram o Projeto de Geração de Renda e Energia em Juazeiro, na Bahia.
O Projeto, de 2,1 MW, beneficiará mil famílias de dois residenciais do Programa Minha Casa Minha Vida e prevê a instalação de sistemas de microgeração de energia solar e eólica, nos telhados e nas áreas comuns dos residenciais. A energia gerada pelos moradores será comprada pela Caixa Econômica Federal para utilização em algumas de suas unidades operacionais e agências. Os objetivos são: promover a organização social das famílias beneficiadas, incentivando o cooperativismo e a troca de experiências e maximizar a renda delas através da geração de energia.
Desde que foi iniciado, o Projeto conta com uma equipe da Brasil Solair que inclui psicólogos, sociólogos, pedagogos, técnicos e engenheiros trabalhando diariamente nas residências. Primeiramente, foram realizados plantões sociais e reuniões com os moradores com o objetivo de orientá-los em relação ao tema “energia renovável” e também sobre o funcionamento do Projeto. Depois, alguns deles foram recrutados, capacitados e treinados para trabalhar na instalação e futura manutenção dos painéis. Atualmente, o Projeto está em fase de finalização.
Embora o projeto não tenha sido finalizado, não tenho dúvidas de que dará certo, isso porque a Brasil Solair se comprometeu com as causas dos consumidores de energia, quais sejam: a falta de emprego, de renda, de oportunidades. Ao mostrar que a empresa se preocupava com os consumidores, estes passaram a se preocupar em cuidar das placas que instalavam, em utilizar a energia de forma, mais racional.
Neste sentido fica o alerta: as empresas que desejam ter um relacionamento institucional com seus clientes, que futuramente seja revertido em benefícios financeiros devem se preocupar em conhecer os seus clientes, e principalmente em demonstrar que estão ali para agregar a sociedade, para promover o exercício dos direitos e não para detraí-los.
*Escrito por Isabela Vargas, advogada, especialista em Regulação Econômica.